Carta de Olinda – ABEFC Nordeste

Entre os dias 26, 27 e 28 de agosto de 2022 na cidade de Olinda – PE, no primeiro Convento Franciscano do Brasil – Convento de São Francisco de Olinda – aconteceu o I Encontro de Articulação da Economia de Francisco e Clara do Nordeste (ABEFC Nordeste), marcando o pontapé inicial dessa articulação no chão do Nordeste brasileiro. Este encontro, marcado por momento de muita animação, reflexões, espiritualidade e planejamento, foi a afirmação de um processo de articulação iniciado na modalidade virtual. Reunidos/as sob a inspiração de Dom Helder Câmara, contamos com a presença de jovens que vão ao encontro em Assis em setembro próximo, representantes de pastorais sociais e organismos, de universidades, redes e fóruns, cooperativas, movimentos eclesiais e sociais e religiosas, contamos com apoio de bispos e da Comissão Regional Sociotransformadora da CNBB NE2.

 

O chamado do Papa Francisco é uma grande motivação para encontrarmos alternativas de superação da brutal desigualdade socioeconômica e regional do Brasil e especialmente no Nordeste. O Papa, na sua carta de convocação para o encontro Economy of Francesco de 1º de maio de 2019, nos convida “… a estabelecer um “pacto” para mudar a economia atual e atribuir uma alma à economia de amanhã.”. Com este espírito, se seguiram os trabalhos do encontro, com a análise de conjuntura, a reflexão sobre o Nordeste que temos e o Nordeste que queremos mapeando os diversos atores sociais que já apontam nas suas práticas para uma nova economia. Avançamos sobre os olhares dos cenários eclesiais e sociopolíticos e nos deparamos com a tarefa urgente de aprofundar uma cultura do diálogo que nos ajude a construir uma sociedade democrática, plural e participativa. Outro desafio apontado é a dívida ecológica que temos. Essa nova economia que buscamos precisa ser uma economia ecológica. O Nordeste sofre não apenas a exploração do trabalho humano e a exclusão social, mas também a exploração ambiental, ambas filhas da mesma lógica de uma economia que mata como afirma o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium.

 

O Nordeste é uma região da resistência e da criação. Inúmeras iniciativas nasceram nesse chão do semiárido, da mata e do litoral, a exemplo das cisternas de placa, da agroecologia com as suas feiras e cooperativas, das experiências de banco comunitários e moedas sociais, da economia solidária, da economia de comunhão. Também a pesquisa acadêmica, a expansão universitária e os saberes populares alimentando o trabalho nas e com as bases fazem parte desse processo; isso tudo só para citar algumas importantes iniciativas que vão moldar a urgente e necessária nova economia.

 

O Encontro de Olinda seguiu o velho e novo método do VER, JULGAR e AGIR, o que mostra seu comprometimento com a integração latino-americana e com as vozes do Sul Global na permanente tarefa de articular simultaneamente o local e o global tendo por exemplo e inspiração nesta caminhada outro grande nordestino: Celso Furtado.

 

Por fim o Encontro apontou vários desafios e tarefas para consolidarmos a Articulação Nordeste da Economia de Francisco e Clara. Entre eles, destacamos os quatros campos: 1. O campo eclesial, sermos ABEFC em diálogo com a CNBB, a CRB, as pastorais sociais e organismos como a Cáritas, o Movimento dos Focolares, dentre outros, bem como apostar num caminho ecumênico, na participação outras igrejas cristãs e no diálogo inter-religioso. É preciso uma teologia para pensar o nordeste. 2. O campo da sociedade civil organizada. Apostar no diálogo com os movimentos populares, ONGs e outros atores sociais para ampliarmos o debate e as lutas por uma nova economia, 3. O campo acadêmico. Dialogar com as universidades, centros de pesquisa, acadêmicos e estudantes para construirmos as pontes necessárias e novas formulações que ajudem a articulação entre a sociedade e academia na busca de uma sociedade justa e solidária. 4. O campo institucional. Aqui é o lugar da incidência política para mudarmos os rumos dos governos e instituições públicas para que levem como centro da política o envolvimento de todas e todos nas políticas públicas que visem a superação das desigualdades. Para isso, destacamos como fundamental o diálogo com o Consórcio de Governadores do Nordeste, com os Governos Estaduais e a SUDENE.

 

Outro encaminhamento foi a proposta de diálogo com os movimentos sociais, universidades e outros atores para a possibilidade de realizarmos um grande Fórum Social e Ecológico do Nordeste.

 

Para irmos construindo essa articulação Nordeste, será necessário a construção da articulação em cada estado, chamando diversos atores sociais e contando com a presença e participação dos jovens da região que estarão em Assis e de todos/as que queiram se juntar e caminhar juntos/as.

 

Vamos em frente Articulando a Economia de Francisco e Clara e colaborando para um Nordeste Economicamente Justo e Ecologicamente Sustentável e Pluralmente Cultural.

 

Com as Bençãos de São Francisco e Santa Clara, nessa cidade histórica e multicultural.

Olinda, 28 de agosto de 2022, o ano do Primeiro Encontro da Economy of Francesco.