Texto escrito por: Isabel Gnaccarini – Jornalista e doutoranda em Ambiente e Sociedade no IFCH – Unicamp

Rumo a Assis – como re-almar a Economia

“Direto do Brasil para o Encontro Mundial em Assis”: este foi o chamado que ecoou da reunião de planejamento estratégico da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, ocorrido no 18 de janeiro. Acantonados na Escola DIEESE de Ciências do Trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, em São Paulo, os participantes tiveram como principal missão exprimir a perspectiva brasileira para a nova Economia inspirada nos dois santos católicos franciscanos. O resultado prático foi a revisão da Carta de Francisco e Clara, uma proposta a ser apresentada pela comitiva brasileira no encontro com o papa, na Itália.

ABEFC inicia 2020 com um encontro de planejamento; a Carta de Francisco e Clara

Na reunião estiveram uma parte dos cerca de 280 jovens que confirmaram sua participação no encontro The Economy of Francesco” – o Brasil tem a segunda maior delegação do total de 2 mil jovens com menos de 35 anos, dentre eles professores, pesquisadores, empreendedores, ativistas sociais e eclesiais, de movimentos ecumênicos e de instituições socioambientais. O encontro debaterá a humanização econômica, as desigualdades sociais e a justiça ambiental.

 

Provenientes das diferentes regiões brasileiras, os jovens estão iniciando sua atuação em rede para “expandir o chamado do Papa para todo o país”. O objetivo de fundo é a continuidade da construção de um corpo articulado que alcance toda sociedade no retorno de Assis. No planejamento preparatório para o encontro “The Economy of Francesco” as discussões foram realizadas em torno dos seguintes grupos: Economia (Economia Feminista, Economia e Espiritualidade, políticas econômicas de consumo e economia ecológica), Desenvolvimento (Agricultura e Justiça, Politicas e Felicidade, CO2 das desigualdades, simplicidade voluntária, sobriedade feliz e economia de suficiente), Finanças (Finanças e Humanidade e Priorização dos Orçamentos Públicos), Educação (trabalho e cuidado, lucro e vocação e direito da criança na EF), Redes (Vida e Estilo de vida, energia e pobreza, tecnologia a favor do humano), Formas de Organização (Negócios em transição, negócios e paz e organização do trabalho e da Classe Trabalhadora) e Governança Democrática (Gestão e dádiva; democracia e desigualdades sociais). Esses temas estão em sintonia com a estrutura proposta pelo evento oficial, que dividiu os jovens integrantes em “12 Vilas temáticas”.

 

A carta final de Francisco e Clara reflete essa inspiração e a força do movimento que vem sendo articulado no Brasil desde meados de 2019. A carta inclui o fundamento do “sagrado feminino” como essência da mudança de um sistema econômico iminentemente patriarcal e materialista, que vem desconsiderando o cuidado da “casa comum” sem responsabilidades para com as pessoas e os outros seres vivos, incluindo-se o meio ambiente. A expectativa para o evento é a de debater com economistas de alto renome internacional, entre eles alguns dos premiados pelo Nobel, caso do economista Amartya Sen. A proposta é a de uma nova Economia com profundo enraizamento ético, e em prol do verdadeiro bem-estar humano que esteja em sintonia com o pedido do papa Francisco para “re-almar” o sistema econômico. Afinal, é urgente perceber a espiritualidade como uma dimensão do Ser: o mundo precisa mesmo é de um desenvolvimento na escala humana. Não à toa foi Assis a cidade escolhida como a base para essas discussões – foi lá onde São Francisco fez seu voto de pobreza no século XIII.

 

O encontro de planejamento de 2020 da ABEFC foi transmitido ao vivo pelo canal Resistentes: