Por Isabel S Gnaccarini, Isaura Maria Leite e Jussara Bianchi Castel.

Momento difícil no Brasil, aquele de meados de 2019 quando ouvimos falar de um sopro novo capaz de mudar a Economia no mundo todo. Aumento da desigualdade. Destruição ambiental. Desagregação das instituições democráticas e deterioração das conquistas dos trabalhadores. Mas resistiam as forças progressistas. E em meio a tal cenário de caos, uma figura particular, um engenheiro fundador da rede Judeus Brasileiros Progressistas (Juprog), acabou por personificar isso: a história de resistência na luta, tentando a união do que parecia muito diferente e separado, procurando o aspecto comum das religiões (a justiça, o bem e o amor que emanam de Deus). Esse personagem foi o Sérgio Storch, um judeu visionário, adepto de crenças indígenas, e que pregava a inter-religiosidade e a tolerância em tempos de pós-verdade e autoritarismo – ele foi um dos articuladores da Frente Inter-religiosa por Justiça e Paz da Comissão Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns da Arquidiocese de São Paulo em dezembro de 2017.

Quando, em março de 2019, foi anunciado pelo papa Francisco que jovens do mundo todo se encontrariam, no ano seguinte, para discutir a Economia de Francisco em Assis, muitos grupos, com temáticas diferentes, e até divergentes, convergiram para a necessidade de RE-almar a economia mundial. Todos atendemos ao chamado desse grande líder, o Papa.

O movimento Economia de Francisco, em São Paulo, capital, teve um grupo de comunicação voluntário, idealizado e protagonizado por este mesmo homem, o Sérgio Storch. Nossa missão, como grupo de comunicação, era apoiar os jovens nessa jornada até o Congresso mundial da Economia de Francisco. Fomos todos tocados pela premência de mudar nossas atitudes e ações, e dar início a uma nova caminhada. O percurso deveria ser no sentido oposto à destruição do planeta, cenário tão bem descrito na Laudato Si. Mensalmente, Sérgio se dedicou a contribuir com o que mais sabia: articular as pessoas em torno de um projeto comum, movimentando recursos de comunicação e divulgação das causas que ele entendia ser belas e boas. Naquele março de 2019, quando foi reunido em São Paulo um grupo de pessoas proativas nesse sentido, ele decidiu por ajudar e a fazer acontecer um evento sobre o tema, tomando para si este desafio de cuidar do GT comunicação.

Não foi fácil. Sérgio sabia que teria de conciliar disputas, vaidades, egos… Com o desafio dos muitos pensamentos antagônicos diante de si, mas de maneira agregadora, reuniu-se com uns e outros, e, depois de conversas e planos, criou um grupo de editores que pudessem trabalhar em prol do evento. Com habilidade, Sérgio sabia que se tratava de unir grupos vindos de muitas ideologias, crenças e grupos heterogêneos. De maneira gratuita, criou o primeiro website da Economia de Francisco no Brasil, ainda que provisório, e deu ao movimento que ganhava corpo uma forma de divulgar as ideias ali urdidas, vinculando às redes sociais tudo o que acontecia nas discussões sobre uma nova Economia de Francisco. Para divulgar o Seminário nacional sobre a Economia de Francisco) no Brasil, que aconteceria na PUC-SP em novembro de 2019, Sérgio dispôs seus recursos financeiros para a construção e manutenção de um website dedicado a registrar o pré-evento. Seria a pedra fundamental de uma mobilização jovem, mas que tivesse a contribuição da experiência progressista do país.

Enfim, ele aglutinou as iniciativas daquele pequeno grupo cujo trabalho foi gigante!

Quando terminamos essa missão pela Economia de Francisco, um outro website havia sido feito por iniciativa do mesmo grupo, mas com  o protagonismo de jovens selecionados para o encontro com o papa Francisco. Nele, o resultado foi que, nas fotos selecionadas, percebemos Sérgio como protagonista (aparecia na capa e nas páginas internas), denotando que, de fato, ele esteve à frente, com a delicadeza que dele emanava. Ao perceber a homenagem involuntária, mas testemunhal, ficou muito emocionado. Nesse ponto já tínhamos vivido nove meses de pandemia da Covid19. E ele já trabalhava apoiando o Consórcio Nordeste, que tinha por missão reunir os estados da região em prol de amenizar o sofrimento causado pelo coronavírus. Não imaginávamos, nunca, perder o Sérgio nessa mesma frente de combate – essa tragédia que se mostrou grandemente amplificada pelo descaso político no país. Tristeza.

Deixamos aqui nossa singela homenagem, querido Sérgio.

Celso Singo Aramaki

Fernanda Rodrigues Alves Castanho

Isabel S Gnaccarini

Isaura Maria Leite

Jussara Bianchi Castel

Patrícia Maria da Silva